quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O Candomblé


Os negros africanos, ao chegarem ao Brasil, trouxeram um culto primitivo, oriundo de sua pátria, conhecido como Candomblé. Aparentemente de maneira infantil, cultuavam alguns deuses chamados por eles de "orixás". Essas divindades seriam, por um lado, ligadas à natureza e por outro aos homens. Praticantes seculares do mediunismo, os negros adeptos do Candomblé, não aceitavam e não aceitam até hoje, a "incorporação" em seus médiuns de Espíritos de "mortos". No Candomblé um Espírito errante é chamado de "egum".

Nos terreiros de Candomblé, só se manifestam mediunicamente as divindades chamadas de "orixás".

O Panteão Africano constitui-se basicamente por sete Orixás Maiores e ainda por muitos Orixás Menores. Os primeiros, são voltados para o lado mais divino da obra de Deus. Os últimos, são mais ligados à própria criatura humana.

Os "orixás", ao presidirem a própria natureza através de seus agentes, trariam em si características de personalidade que os ligariam a determinados estados evolutivos da espécie humana. A vibração provocada pelo tipo de personalidade de um certo indivíduo, vai colocá-lo sob a influência de determinado "Orixá". Diz-se, então, que ele é oriundo daquela faixa psíquica, ou como fazem no Candomblé, que ele é "filho de Santo".

Os Orixás maiores são:

OXALÁ - Símbolo da natureza religiosa, santificada. Não é Deus, mas está abaixo Dele, presidindo seus desígnios. Para os iniciados é o Cristo, para os umbandistas, Jesus. Na natureza, liga-se aos céus e tudo o que nele há.

IEMANJÁ - Símbolo da natureza feminina, da beleza e da reprodução. Na natureza, liga-se às águas do mar. No sincretismo, Nossa Senhora.

XANGÔ - Símbolo da justiça. Envolve o cumprimento da lei de causa e efeito, com os seus "agentes" de naturezas diversas. Segundo os estudiosos, é esse orixá que dá origem à justiça terrena. Na natureza liga-se às montanhas. No sincretismo, seria São Jerônimo.

OGUM - Simboliza a idéia de trabalho, de luta, de guerra, de vitória. Na natureza, liga-se aos metais. No sincretismo, é São Jorge.

OXÓSSI - Simboliza a natureza jovem, de homens e mulheres, a alegria saudável, a energia jovial. Na natureza está ligado às matas. No sincretismo, é São Sebastião.

IORIMÁ - é símbolo de maturidade, de serenidade, amor, compreensão e humildade. Na natureza, liga-se à movimentação das águas, cachoeiras etc. É o estado de experiência do velho. No sincretismo, é São Cipriano.

IORY - Traz em si a natureza infantil. Representa as vibrações inocentes da criança, sua simplicidade etc. Na natureza, simboliza a alegria existente nas matas, nos rios, nos lagos etc. No sincretismo, é Cosme e Damião.

Essas variedades de divindades formam o mundo dos Orixás, dos sentimentos, com o qual cada criatura possui sintonia em determinada faixa, segundo o grau evolutivo que atingiu em sua ascensão espiritual.

Mas, conforme o Candomblé, existe outro lado espiritual, de uma natureza ruim, onde as mentes se encontram em desequilíbrio: é o reino de Elegbara. Na Umbanda é conhecido como mundo de Exu e na Igreja católica, como região do Diabo.

A origem dos orixás, segundo as lendas do povo africano, é a fragmentação do pensamento criativo, quando este, por sua vontade, vai presidir a criação de determinado orbe. Os orixás não estariam sujeitos à evolução, embora fossem ligados aos Espíritos que o estão, pela afinidade vibratória que os caracterizam.

Filhos do grande "Olorum" (Deus Pai), os "orixás" seriam cumpridores de Sua vontade, em plano mais grosseiro. As histórias narradas pelas lendas, à primeira vista parecem infantis, mas quase sempre elas possuem fundamentos lógicos.

Infelizmente, tudo o que veio da África está atualmente muito diluído, misturado à prática de adivinhações, de baixa magia e de rituais inconsequentes. Entretanto é importante que se compreenda as origens dessa crença a fim de que se tenha uma visão mais completa do que ela representa em nossa cultura.

Esú-Exu


  • DIA: Segunda-feira.
  • DATA: Todos os dias são de Exu.
  • METAL: Não tem, sua matéria é a terra em seu estado de pureza.
  • CORES: Preto (ou seja, a fusão das cores primárias) e vermelho.
  • COMIDAS: Farofa de azeite-de-dendê, ekó (acaçá), carne mal passada.
  • SÍMBOLOS: Ogó de forma fálica, falo ereto.
  • ELEMENTOS: Terra e fogo.
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Exu é universal.
  • PEDRAS Rubi e Granada.
  • FOLHAS Folha de fogo, coração-de-negro,aroeira vermelha, figueira brava, bredo, urtiga.
  • ODU QUE REGE Okaran e Owarín.
  • DOMÍNIOS Sexo, magia, união, poder e transformação.
  • SAUDAÇÃO Laroié!


    Origem e História

    Exu (Èsù) é a figura mais controvertida do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exu é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exu é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia-a-dia.

    Muitas são as confusões e equívocos relacionados a Exu, o pior deles o associa à figura do diabo cristão; pintam-no como um deus voltado para a maldade, para perversidade, que se ocuparia em semear a discórdia entre os seres humanos. Na realidade, Exu contém em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. Exu não é totalmente bom nem totalmente mau, assim como o homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar, promover a paz e a guerra.

    O maniqueísmo, próprio das grandes religiões monoteístas, não se aplica ao Candomblé, muito menos a Exu. A cultura africana desconhece oposições, em especial a oposição entre bem e mal; sabe-se aqui que o bem de um pode perfeitamente ser o mal de outro, portanto, cada um deve dar o melhor de si para obter tudo de bom em sua vida, sempre cultuando, agradando e agradecendo a Exu, para que ele seja, no seu cotidiano, a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade.

    Exu é o orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade, e, se agradado como se deve, saberá retribuir; quando agradecido por sua retribuição, torna-se amigo e fiel escudeiro. No entanto, quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte, fechando-lhe os caminhos e trazendo catástrofes e dissabores.

    Exu é a figura mais importante da cultura iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só através de Exu é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumaré. Exu fala toda as línguas e permite a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens.

    Exu é o dono do mercado, o seu guardião, por isso todo comerciante e aqueles que lidam com venda devem agradar a Exu. As vendedoras de acarajé, por exemplo, sempre oferecem o primeiro bolinho a Exu, atirando-o a rua, não só para vender bem, mas também par afastar as perturbações, evitar assaltos etc., ou seja, pra que Exu seja de fato um guardião e proteja o seu negócio.

    É evidente que Exu não precisa pagar no mercado, porque lá recebe muitas oferendas; nenhum comerciante deixa de agradar a Exu, A não ser os que desejam conhecer o seu lado perverso.

    É importante ressaltar que Exu não tem amigos nem inimigos. Exu sempre protege aqueles que o agradam e sabem retribuir os seus favores.

    Exu foi à primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo sua região de origem na África, pois em todos os reinos se presta culto a Exu. Sabe-se, no entanto, que chegou a ser rei de Kêtu. Exu renasceu várias vezes e a sua história revela que é filho de Orunmilá ou de Oxum, dependendo do momento em que renasce.


Ogùn-Ogun


  • DIA: Terça-Feira
  • DATA: 13 de junho
  • METAL: Ferro (mas todos os metais são de Ogum)
  • CORES: Verde ou Azul escuro (Brasil), Vermelho (África)
  • COMIDAS: Inhame assado e feijoada
  • SÍMBOLOS: Bigorna, faca, pá, enxada e outras ferramentas
  • ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e fogo
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Iré
  • PEDRA: Lápis-lazúli
  • FOLHAS: Abre-caminho-de-Ogum, madeira de lei, aroeira-branca
    cajarana, folhas de manga espada, palmeira, pau-ferro
    caiçara, peregun (pau-d’água)
  • ODU QUE REGE: Ejikomeji, Etaogundá, Owarín
  • DOMÍNIOS: Guerra, progresso, conquista e metalurgia
  • SAUDAÇÃO: Ògún ieé!!



    Origem e história


    Ogum (Ògún) é o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protetor do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, açougueiros, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com o ferro ou metais afins.

    Orixá conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra por seu caráter devastador. Foras muitos os reinos que se curvavam diante do poder militar de Ogum.

    Entre os muitos Estados conquistados por Ogum estava a cidade de Iré, da qual tornou-se senhor após matar o rei e substituí-lo por seu, próprio filho, regressando glorioso com o título de Oníìré, ou seja, Rei de Iré.

    Não é por acaso, portanto, que nas orações dedicadas a Ogum o medo fica tão evidente e a piedade é um pedido constante, pois como diz uma de suas cantigas:


    Ògún pá lélé pá
    Ògún pá ojaré
    Ògún pá, ejé pá
    Akoró ojaré.

    Ogum mata com violência
    Ogum mata com razão
    Ogum mata e destrói completamente.


    Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé.

    Ogum é um orixá importantíssimo na África e no Brasil. Sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imolé.

    Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros quatrocentos deuses da esquerda.

    Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o homem a vencer a natureza.

    Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço daquele continente com sua bravura. Matou muita gente, mas matou a fome de muita gente, por isso antes de ser temido Ogum é amado.

    Espada! Eis o braço de Ogum.


Òsóòsì-Oxossi


  • DIA: Quinta-feira
  • DATA: Corpus Christi(BA), 23 de abril (SP), 20 de janeiro
    (RJ)
  • COR: Azul-Turquesa
  • COMIDAS: Frutas, ewa (feijão fradinho torrado), axoxó (milho cozido com coco)
  • SÍMBOLOS: Ofá (arco), damatá (flecha), erukeré
  • ELEMNTO: Terra(florestas e campos cultiváveis)
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Kêtu
  • PEDRAS: Turquesa, água-marinha
  • FOLHAS: Aroeira,peregun (pau-d’água), erva pombinho
    (quebra-pedra), pega-pinto, alecrim-do-campo
  • ODU QUE REGE: Obará e Odi
  • DOMÍNIOS: Caça, agricultura, alimentação e fartura
  • SAUDAÇÃO: Òké Aro!!! Arolé!


    Origem e História

    Oxóssi (Òsóòsi) é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam, orixá da fartura e da riqueza. Atualmente, o culto a Oxossi está praticamente esquecido na África, mas é bastante difundido no Brasil, em cuba e em outras partes da América onde a cultura ioubá prevaleceu. Isso se deve ao fato de a cidade de Kêtu, da qual era rei, ter sido destruída quase por completo em meados do século XVIII, e seus habitantes, muitos consagrados a Oxossi, terem sido vendidos como escravos no Brasil e nas Antilhas. Esse fato possibilitou o renascimento de Kêtu, não como estado, mas como importante nação religiosa do Candomblé brasileiro.

    Oxóssi é o rei de Kêtu, segundo dizem, a origem da dinastia. A Oxóssi são conferidos os títulos de Alakétu, Rei, Senhor de Kêtu, e Oníìlé, o dono da Terra, pois na África cabia ao caçador descobrir o local ideal para instalar uma aldeia, tornando-se assim o primeiro ocupante do lugar, com autoridade sobre os futuros habitantes. É chamado de Olúaiyé ou Oni Aráaiyé, senhor da humanidade, que garante a fartura para seus descendentes.


    Na história da humanidade, Oxóssi cumpre um papel civilizador importante, pois na condição de caçador representa as formas mais arcaicas de sobrevivência humana, a própria busca incessante do homem por mecanismos que lhe possibilitem se sobressair no espaço da natureza e impor sua marca no mundo desconhecido.

    A coleta e a caça são formas primitivas de busca de alimento, são os domínios de Oxóssi, orixá que representa aquilo que há de mais antigo na existência humana: a luta pela sobrevivência. Oxóssi é o orixá da fartura e da alimentação, aquele que aprende a dominar os perigos da mata e vai e busca da caça para alimentar a tribo. Mais do que isso, Oxóssi representa o domínio da cultura (entendendo a flecha como utensílio cultural, visto que adquire significados sociais, mágicos, religiosos) sobre a natureza.

    Astúcia, inteligência e cautela são os atributos de Oxóssi, pois, como revela a sua história, esse caçador possui uma única flecha, por tanto, não pode errar a presa, e jamais erra. Oxóssi é o melhor naquilo que faz, está permanentemente em busca da perfeição.

    Na África, os caçadores que geralmente são os únicos na aldeia que possuem as armas, têm a função de salvar a tribo, são chamados de Oxô, que significa guardião. Oxóssi também foi um Òsó, mas foi um guardião especial, pois salvou seu povo do terrível pássaro das Iyá-Mi.

    Outras histórias relacionadas a Oxossi o apontam como irmão de Ogum. Juntos, eles dominaram a floresta e levaram o homem à evolução. Além de irmão, Oxóssi é grande amigo de Ogum-dizem até que seria seu filho, e onde está Ogum deve estar Oxóssi, suas forças se completam e, unidas, são ainda mais imbatíveis.

    Oxóssi mantém estreita ligação com Ossaim (Òsanyìn), com quem aprendeu o segredo das folhas e os mistérios da floresta, tornou-se um grande feiticeiro e senhor de todas as folhas, mas teve que se sujeitar aos encantamentos de Ossaim.

    A história mostra Oxóssi como filho de Iemanjá, mas a sua verdadeira mãe, segundo o mais antigos, é Apaoká a jaqueira, que vem a ser uma das Iyá-Mi, por isso a intimidade de Oxóssi com essa árvore.

    A rebeldia de Oxóssi é algo latente em sua história. Foi desobedecendo às interdições que Oxóssi tornou-se orixá.

    A exemplo de Xangô, Oxóssi é um orixá avesso à morte, porque é expressão da vida. A Oxóssi não importa o quanto se viva, desde que se viva intensamente. O frio de Ikú (a morte) não passa perto de Oxóssi, pois ele não acredita na morte.

    Odé não chega perto da morte
    Ele se assenta em terras estranhas
    Odé me olha e me dá medo.


Òsonyín-Ossain


  • DIA: Quinta-feira.
  • DATA: 5 de outubro.
  • METAL: Estanho.
  • CORES: Verde e branco.
  • COMIDAS: Fumo, mel, milho vermelho, espigas regadas com mel.
  • SÍMBOLOS: Haste ladeada por sete lanças com um pássaro no topo (árvore estilizada).
  • ELEMENTOS: Floresta e plantam selvagens (terra).
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Iraó.
  • PEDRA: Esmeralda.
  • FOLHAS: Peregun, são-gonçalinho, garobinha-mas toda as folhas são de Ossaim.
  • ODU QUE REGE: Iká.
  • DOMÍNIOS: Medicina e liturgia através das folhas.
  • SAUDAÇÃO: Ewé ó!


    Origem e História

    Kó si ewé, kó sí Òrìsà, ou seja, sem folhas não há orixá, elas são imprescindíveis aos rituais do Candomblé. Cada orixá possui suas próprias folhas, mas só Ossaim (Òsanyìn) conhece os seus segredos, só ele sabe as palavras (ofó) que despertam seu poder, sua força.

    Ossaim desempenha uma função fundamental no Candomblé, visto que sem folhas, sem sua presença, nenhuma cerimônia pode se realizar, pois ele detém o axé que desperta o poder do ‘sangue’ verde da folhas.

    As folhas de Ossaim veiculam o axé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva. São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sangue das folhas é uma das forças mais poderosas, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.

    É preciso esclarecer que o sangue (ejé) é um elemento essencial no Candomblé. Três são os tipos de sangue: o vermelho, dos animais, do azeite-de-dendê, do mel; o preto (verde), do sumo das folhas, e o branco, do sêmen, do vinho de palma, da água.

    As folhas constituem o fundamento inicial do Candomblé. Antes de passar por qualquer ritual, o neófito tomará o banho de ervas (amassi) que o purificará e será sua primeira consagração dentro do culto. É com o amassi que se lavam os colares, os objetos rituais do ibá, a cabeça, a alma e o corpo dos iniciados. É sobre as folhas sagradas de ossaim que repousará o iaô em sua consagração ao orixá. É com as folhas que os animais consentem o sacrifício. Ossaim é, portanto, a primeira consagração no Candomblé: primeira e constante, pois a folha faz parte do dia-a-dia dos adeptos do Candomblé; Ossaim é imprescindível à religião, aos orixás e aos iniciados.

    Todas as folhas possuem poder, mas algumas têm finalidades específicas e não servem para o banho ritual. Nem todas as folhas servem para os ritos do Candomblé. Nos banhos de amassi, por exemplo, devem ser utilizadas folha não-leitosas que não queimem; outras, como o Oju-orô, devem passar por uma preparação especial antes de ser utilizadas nos banhos. Em outros termos, existem folhas que podem ser usadas nos rituais e folhas que não podem; outras devem passar por ritos especiais, algumas folhas não servem para o banho. Enfim, as folhas possuem inúmeras utilidades dentro e fora do Candomblé, mas é preciso que o sacerdote saiba utilizá-las de maneira correta.

    Ossaim é o grande sacerdote das folhas, grande feiticeiro, que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, pode trazer progresso e riqueza. È nas folhas que está à cura para todas as doenças, do corpo ou do espírito. Portanto, precisamos lutar por sua preservação, para que conseqüências desastrosas não atinjam os seres humanos.

    A floresta é a casa de Ossaim, que divide com outros orixás do mato, como Ogum e Oxóssi, seu território por excelência, onde as folhas crescem em seu estado puro, selvagem, sem a interferência do homem; é também o território do medo, do desconhecido, motivo pelo qual nenhum caçador deve penetrar na floresta na mata sem deixar na entrada alguma oferenda, como alho, fumo ou bebida. Medo de que? Medo dos encantamentos da floresta, medo do poder de Ogum, de Oxóssi, de Ossaim; respeito pelas forças vivas da natureza, que não permitem a pessoas impuras ou mal-intencionadas penetrar em sua morada. Se nela entrarem, talvez jamais encontrem o caminho de volta.

    Ossaim teria um auxiliar que se responsabilizaria por causar o terror em pessoas que entram na floresta sem a devida permissão. Aroni seria um misterioso anãozinho perneta que fuma cachimbo (figura bastante próxima ao Saci-Pererê), possui um olho pequeno e o outro grande (vê com o menor) e tem uma orelha pequena e a outra grande(ouve com a menor). Muitas vezes Aroni é confundido com o próprio Ossaim, que, segundo dizem, também possui uma única perna. Não se pode por isso confundir Ossaim com o Saci-Pererê, que é um personagem do folclore brasileiro. Ossaim é orixá de grande fundamento, que possui uma só perna porque a árvore, base de todas as folha possui um só tronco.

    De acordo com a história desse orixá, há uma rivalidade entre Ossaim e Orunmilá, que reflete, na verdade, a antiga disputa entre os Oníìsegùn - mestres em medicina natural que dominavam o poder das folhas - e os Babalawó - sacerdotes versados nos profundos mistérios do cosmo e do destino dos seres, os pais do segredo.

    Ossaim é um orixá originário da região de Iraó, na Nigéria, muito próxima à fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão jeje assimilado pelos nagô, como Nana, Omolu, Oxumaré e Ewá. Ossaim é um deus originário da etnia ioruba. Contudo, é evidente que entre os jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossaim dança bravun e sató, a exemplo dos deuses do antigo Daomé.
    Uma confusão latente se refere ao sexo de Ossaim; é preciso esclarecer que se trata de um orixá do sexo masculino. Entretanto, como feiticeiro e estudioso das plantas, não teve tempo de relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado.

    Na verdade, Ossaim e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são orixás do mesmo espaço, da floresta, do mato, das folhas, grandes feiticeiros e conhecedores dos segredos da mata, da Terra.


Òbaluwàié-Obaluaê


  • DIA: Segunda-feira
  • DATA: 13 ou 16 de Agosto
  • METAL: Chumbo
  • CORES: Preto, branco e vermelho.
  • COMIDAS: Pipoca (deburu), abado, mostarda (latipá), aberém.
  • SÍMBOLOS: Xaxará ou Íleo, lança de madeira, lagidibá.
  • ELEMENTOS: Terra e fogo do interior da Terra.
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Empé ou Mahi (no ex-Daomé)
  • PEDRA: Turmalina negra.
  • FOLHAS: Canela-de-velha, picão, erva-de-bicho, velame, manjericão roxo, barba-de-velho, mamona.
  • ODU QUE REGE: Odi, Etaogundá, Obeogundá.
  • DOMÍNIOS: Doenças epidêmicas, cura de doenças, saúde, vida e morte.
  • SAUDAÇÃO: Atotoó!!!


    Origem e História

    Omolu é a Terra! Essa afirmação resume perfeitamente o perfil desse orixá, o mais temido entre todos os deuses africanos, o mais terrível orixá da varíola e de todas as doenças contagiosas, o poderoso “Rei Dono da Terra”.

    È preciso esclarecer, no em tanto, que Omolu está ligado ao interior da terra (ninù ilé) e isso denota uma intima relação com o fogo, já que esse elemento, como comprovam os vulcões em erupção, domina as camadas mais profundas do planeta.

    Toda a reflexão em torno de Omolu ocorreu colocando-o como um orixá ligado a terra, o que é corretíssimo, mas não deixa de ser um erro desconsiderar a sua relação com o fogo do interior da terra, com as lavas vulcânicas, como os gases etc. o que pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as febres, as convulsões lançadas por Omolu! Omolu é o fogo que varre, que arrasta para a morte - como as lavas de um vulcão. Uma cantiga de Jagun, uma qualidade guerreira de Obaluaiê (Obalúayé), comprova o que foi dito:

    Ele é o senhor que pode afligir o mundo com pestes e doenças.
    Pode afligir a Terra e devastar como o fogo.
    Pode afligir o despertar e o adormecer.
    Ele é Ajagunán.


    Orixá cercado de mistérios, Omolu é um deus de origem incerta, pois em muitas regiões da África eram cultuados deuses com características e domínios muito próximos aos seus. Omolu seria rei dos tapas, originário da região de Empé. A esse respeito, a história revela que Obaluaiê, acompanhado de seus guerreiros, teria se aventurado pelos quatro cantos da Terra. O poderoso orixá massacrou todos os seu inimigos, um ferimento feito por sua flecha tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Em território Mahi, no antigo Daomé, chegou aterrorizando, mas o povo do local consultou um babalaô que lhes ensinou como acalmar o terrível orixá. Fizeram então oferendas de pipocas, que o acalmaram e o contentaram. Omolu construiu um palácio em território Mahi, onde passou a residir e a reinar como soberano, porém não deixou de ser saudado como Rei de Nupê em pais Empê (Kábíyèsí Olútápà Lempé).

    As pipocas, ou melhor, deburu, são as oferendas prediletas do orixá Omolu; um deus poderoso, guerreiro, caçador, destruidor e implacável, mas que se torna tranqüilo quando recebe sua oferenda preferida.

    Como se pôde observar, até aqui temos utilizando os nomes Omolu e Obaluaiê indistintamente pra designar o grande orixá das doenças epidêmicas, e não há nada de errado nisso. Obaluaiê significa ‘Rei dono da Terra’e Omolu,’Filho do senhor’, resta saber que ‘Senhor’ é o pai de Omolu. Ao analisar separadamente cada palavra que forma os nome desse orixá, a questão fica mais clara:

    OBALUAIÊ= OBÁ + OLU + AIYÉ
    OMULU= OMO + OLU


    Portanto Omolu é, sim, o filho do senhor, mas do senhor Obaluaiê. Trata-se de duas qualidades do mesmo orixá, mas as pessoas costumam confundir as coisas e dizer que Omolu é o pai e Obaluaiê o filho, esse é um equívoco que se reproduziu ao longo dos anos.

    Na África são muitos os nomes de Omolu, que variam conforme a região. Entre os tapas era conhecido Xapanã (Sànpònná); entre os fon era chamado de Sapata-Ainon,que significa ‘Dono da Terra’; já os iorubás o chamam Obaluaiê e Omolu.

    Omulu nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado por sua mãe, Nanã Buruku, na beira da praia. Nesse contratempo, um caranguejo provocou graves ferimentos em sua pele. Iemanjá encontrou aquela criança e a criou com todo amor e carinho; com folhas de bananeira curou suas feridas e pústulas e a transformou em um grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com palha-da-costa (ikó) não porque escondia as marcas de sua doença, como muitos pensam, mas porque se tornou um ser de brilho tão intenso quanto o próprio sol. Por essa passagem, o caranguejo e a banana-prata tornaram-se os maiores ewò de Obaluaiê.

    O capuz de palha-da-costa-azê (azé) cobre o rosto de Obaluaiê para que os seres humanos não o olhem de frente (já que olhar diretamente para o próprio sol pode prejudicar a visão). A história de Omulu explica a origem dessa roupa enigmática, que possui um significado profundo relacionado à vida e à morte.

    O azê guarda mistérios terríveis para simples mortais, revela a existência de algo que deve ficar em segredo, revela a existência de interditos que inspiram cuidado medo, algo que só o iniciados no mistério podem saber. Desvendar o aze, a temível máscara de Omulu, seria o mesmo que desvendar os mistérios da morte, pois Omulu venceu a morte. Embaixo da palha-da-costa, Obaluaiê guarda os segredos da morte e do renascimento, que só podem ser compartilhados entre o iniciados.

    A relação de Omolu com a morte se dá pelo fato de ele ser a terra, que proporciona os mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida. O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se forte diante do mundo, mas continua frágil diante de Omolu, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois Omolu é a terra, que vai consumir o corpo do homem por ocasião de sua morte. Por isso é que se diz que Omolu mata e come gente.

    Essa é a prova de que Obaluaiê andou por todos os cantos da África, muito antes, inclusive, de surgirem algumas civilizações. Do ponto de vista histórico, Omolu é a idade anterior à Idade dos Metais, peregrinou por todos os lugares do mundo, conheceu todas as dores do mundo, superou todas. Por isso Omolu tornou-se médico, o médico dos pobres, pois, muito antes da ciência, salvava a vida dos desvalidos; durante a escravidão, só não pôde superar a crueldade dos senhores, mas de doenças livrou muitos negros e até hoje muitos pobres só podem recorrer a Omolu que nunca lhes falta.


Òsùmàrè-Oxumaré


  • DIA: Terça-feira
  • DATA: 24 de Agosto
  • METAL: Ouro e prata mesclados
  • CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris
  • COMIDAS: Ovos cozidos com azeite-de-dendê, farinha de milho e camarão seco.
  • SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá.
  • ELEMENTOS: Céu e terra
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Mahi (no ex-Daomé)
  • PEDRA: Zirconita
  • FOLHAS: Folha de café, alfavaca-de-cobra, jibóia, oriri.
  • ODU QUE REGE: Obeogundá e Iká
  • DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes.
  • SAUDAÇÃO: A Run Boboi!!!


    Origem e história

    Oxumaré (Òsùmàrè) é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação; imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem, que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo.

    Oxumarê mora no céu e vem a Terra nos visitar através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo.


    Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.

    Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua. Oxumaré é um Orixá masculino.

    Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e a terra, que é macho e fêmea. Ele exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida. Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a necessidade do movimento da transformação.

    Omolu é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse ato, já que era um costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonasse às crianças nascidas com alguma deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto percorreria o mundo sem parar. Nasceu Oxumaré.

    Oxumaré que fica no céu
    Controla a chuva que cai sobre a terra.
    Chega à floresta e respira como o vento.
    Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.


Sango-Xangô


  • DIA: Quarta-Feira
  • DATA: 29 de junho
  • METAIS: Cobre, ouro e chumbo.
  • CORES: Vermelho (ou marrom) e branco
  • COMIDA: Amalá
  • SÍMBOLOS: Oxés (machados duplos), Edún-Àrá, xerê
  • ELEMENTOS: Fogo (grandes chamas, raios), formações rochosas.
  • REGIÃO DA ÁFRICA: Òyó e Kossô(reino vizinho ou subdistrito de Òyó)
  • PEDRA: Rubi
  • FOLHAS: Cabuatá, hortelã grosso, manjerona, musgo de pedreira, mentrasto.
  • ODU QUE REGE: Ejilaseborá e Obará
  • DOMÍNOS: Poder estatal, justiça, questões jurídicas.
  • SAUDAÇÃO: Kawó Kabiesilé!!


    Origem e História


    Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível: um déspota. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis. Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel?

    Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.

    A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.

    Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade pacienciosa e tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.

    O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.

    Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. Em outros termos, o déspota reflete a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua retidão e honestidade superam o seu caráter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.

    Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
    Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.

    Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.

    Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal, o que seria um ‘olhar de fogo’senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao olhar de flerte de Xangô?

    Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo.
    Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.

    A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.

    Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.


Òya-Iansã


  • Dia: Quarta-feira
  • Data: 4 de Dezembro
  • Metal: Cobre
  • Cores: Marrom, vermelho e rosa
  • Comidas: Acarajé e abará
  • Símbolos: Espada e eruesin
  • Elementos: Ar em movimento, fogo
  • Região da África: Irá
  • Pedras: Rubi, terracota
  • Folhas: Pára-raio, louro, flor-de-coral, brinco-de-princesa
  • Odu que rege: Osá, Owarín
  • Domínios: Tempestades, ventanias, raios, morte
  • Saudação: Epahei!


    Origem e História

    O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).

    Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada ao elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.

    A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.

    Ilumina o céu na tarde escura,
    Ressoa seu assovio terrível:
    Vento de morte na tarde de chuva,
    Vento que destelha a casa do traidor,
    Que deixa a nuvem inundar a cidade,
    Que destrói,
    Que mata.
    Ilumina o céu na tarde escura,
    Brisa benfazeja que afasta as nuvens negras:
    Vento da vida na tarde de sol,
    Vento que afasta a escuridão,
    Que devolve a luz do dia,
    Que encanta,
    Que brilha.

    Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra seu amor e sua alegria contagiantes na mesma proporção que exterioriza sua raiva, seu ódio. Dessa forma, passou a se identificar muito mais com todas as atividades relacionadas ao homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.

    O fato de estar relacionada a funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e seu número de paixões mostra a forte atração que sente pelo sexo oposto. Oiá (Oya) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças a seus amores, conquistou grandes poderes e se tornou orixá.

    Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, por tanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas a suas convicções e seus sentimentos.

    Algumas passagens da história de Iansã a relacionam à antigos cultos agrários africanos ligado à fecundidade, e é por isso que a menção ao chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, sempre surge em suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.

    Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.


Òsun-Oxum


  • Dia: Sábado
  • Data: 8 de Dezembro
  • Metais: Cobre, latão e ouro
  • Cor: Amarelo- ouro
  • Símbolo: Leque com espelho (abebé)
  • Elemento: Água doce (rios, cachoeiras, nascentes, lagoas etc.)
  • Região da África: Ijesá, Ijebu e Osogbo
  • Pedra: Topázio
  • Folhas: Macaca, baronesa, vitória-régia, oripepê, ojú-oro, oxibatá, oriri, vassourinha-de-igreja
  • Odu que rege: Osé
  • Domínios: Amor, riqueza, fecundidade, gestação e maternidade
  • Saudação: Eri Yéyé ó!


    Orígem e História

    Na Nigéria, mais precisamente em Ijesá, Ijebu e Osogbó, corre calmamente o rio Oxum, a morada da mais bela aiabá, rainha de todas as riquezas, protetora das crianças, mãe da doçura e da benevolência.

    Generosa e digna, Oxum é a rainha de todos os rios. Vaidosa, é a mais importante entre as mulheres da cidade, a Ialodê. É a dona da fecundidade das mulheres, a dona do grande poder feminino.

    Oxum é a deusa mais bela e mais sensual do Candomblé. É a própria vaidade, dengosa e formosa, pacienciosa e bondosa, mãe que amamenta e ama. Um de seus oriquis, visto com mais atenção, revela o zelo de Oxum com seus filhos:

    Mulher elegante
    Que tem jóias de cobre maciço
    É uma cliente dos mercadores de cobre
    Oxum limpa suas jóias de cobre
    Antes de limpar seus filhos

    O primeiro filho de Oxum chama-se Ide, é uma verdadeira jóia, uma argola de cobre que todo iniciado de Oxum deve carregar em seu braço. Oxum não vê defeitos em seus filhos, não vê sujeira, seus filhos, para ela, são verdadeiras jóias, ela só consegue enxergar seu brilho. É por isso que Oxum é a mãe das crianças, seres inocentes e sem maldade, zelando por elas desde o ventre até que adquiram independência. Seus filhos, antes, suas jóias, sua maior riqueza.